sábado, 30 de julho de 2011

QUEM GANHA COM AS INDENIZAÇÔES ?

  • Aviadores não são "doidões" que vivem de emoções e surpresas;
  • Aviadores são estudiosos, e buscam perfeição no seu saber, até porque sabem perfeitament o preço trágico do desconhecer;
  • Aviadores, diferentemente de "pilotos do circo de F1", por exemplo, jamais aceitariam operar em situações extremas, limitrofes às capacidades das máquinas que operam;
  • Aviadores são inteligentes, e exigem de suas empresas condições de treinamento específico;
  • Aviadores não "levam avião nas costas", tirando mais performance por mágica competência inexplicável;
  • Aviadores sabem que os termos "comandante" e "co-piloto" referem-se somente a atividades administrativas, e que quando estão em um cockpit conduzindo um vôo "produtivo", são parceiros e trabalham em conjunto (denomina-se CRM), sem imiscuir administrativos (poder do comandante) com assuntos técnicos, que são partilhados. Enfim, copiloto não é aprendiz;
  • Aviadores erram, e sentem-se frustrados quando isso ocorre;
A celeuma na imprensa a respeito do acidente do vôo 447 da Air France, com a pública exposição dos dados do CVR - Cockpit Voice Recorder, provocando o corre-corre dos advogados querendo provar que "se o erro foi dos copilotos, a indenização será maior", mostra e evidencia o instinto mercenário de alguns.
  • Profissionais de imprensa demonstram querer maximizar o trágico e o polêmico, para vender mais sua midia;
  • Profissionais do Direito, declaram estar buscando "maximizar resultados" traduzidos por indenizações polpudas e evidentemente, seu prêmio em forma de sucumbência pelo "trabalho bem feito".
E a segurança de vôo ? 

Pagando indenizações milionárias, como terá a empresa recursos para melhorar o treinamento dos aviadores?


Empresas de aviação possuem cornucópias escondidas no fundo dos hangares, ou tem sua fonte de renda proveniente da venda de passagens ao menor preço possível ?

Quantos passageiros a Air France deixou de transportar, em decorrência deste acidente ?

Se essa empresa falir, como punição pelo acidente, ela será substituida por outra, com o mesmo "expertise" conseguido pela Air France, que está no mercado desde que incorporou a Latecoere (http://www.latecoere.com/) que criou a Aeropostale...

Sim, a L'Aeropostale de Mermoz e Saint Èxupery, que virou a Air France.



Acabar com uma empresa de aviação é muito rápido e fácil, como infelizmente fizeram com a VARIG, TRANSBRASIL, VASP e CRUZEIRO DO SUL e até a PANAIR do BRASIL, sem contar a PANAM e várias outras.

Mas o conhecimento agregado de aviadores, de pessoal de manutenção, de doutrina de operação, de conhecimento de rotas, de gerenciamento de crises...
Seriam as novas empresas tão preparadas, como se o conhecimento viesse através de uma injeção na veia ou da leitura de alguns livros e manuais ?

Basta substituir um grupo organizado, especializado em transporte aéreo, por capitalistas dispostos a ocupar seu lugar, recrutando gente "disponível" no mercado ?

A Aviação, e por conseqüência a SEGURANÇA de VÔO - desculpe, ANAC, Segurança Operacional - continua garantida com a inclusão de novos capitalistas para explorar esse filão de mercado ?

E o transporte terrestre, por exemplo ?

É tão seguro que os jornalistas não publicam seus acidentes com o devido destaque (pelo número de fatalidades totais, em relação à aviação).
Nem advogados aparecem nos holofotes declarando "a importância de punir através de indenizações", e na maioria das vezes, tudo fica por conta do seguro obrigatório, que mal dá para pagar os funerais - e "liberado" somente meses depois do defunto esfriar.

Pêsames, familiares de usuários - indignados e ultrajados, que querem ser consolados com indenizações milionárias.
Acho que este caminho é o equivalente ao de se cuspir para cima - de toda a sociedade.

Vingança não é justiça!

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

PERCEPÇÃO DO RISCO PELO AVIADOR

Aviadores são geralmente pessoas otimistas.

Riscos operacionais são naturalmente considerados, analisados e registrados mentalmente em conjunto com o "check-list de resolução do problemas" respectivo, e assim segue a vida e o vôo.
Exceto se o risco analisado não puder ser solucionado pelo aviador.
Neste caso ele deixa seu estado natural, para começar a reclamar, pedindo uma solução, em tom de exigência.
Infraestrutura aeronáutica subdimensionada não pode ser resolvida pelo aviador.
- Decolar pesado sem precisar, por necessitar de muito combustível para chegar a uma alternativa mais distante que o destino é motivo de irritação;
- Durante o vôo, em condições meteorológicas desfavoráveis, começar a perder aeródromos de alternativa devido "lotação de pátio de estacionamento" não irá deixá-lo "zen";

Aviadores voando com seu estado mental perturbado por pressões externas continuadas (já decola assim), é fator de alerta para quem cuida de Segurança Operacional, porque "a priori" já inclui um FATOR HUMANO (stress) a ser considerado em todas as ocorrências aeronáuticas neste ambiente.

Uma defesa começa a ser diluída por fatores externos ao vôo, e um pouco além da maioria dos Gestores de Segurança Operacional, pois a solução só é possível com a colaboração e empenho dos GESTORES DA NAÇÃO BRASILEIRA.

Até lá, vamos voando.

A seguir, o desabafo de um aviador de empresa de linha regular, resumido.

 

INFRAESTRUTURA AERONÁUTICA PELA ÓTICA DE UM AVIADOR DE LINHA


este comentário foi recebido via e-mail, e tem circulado pela internet. Pelo texto, seu autor autoriza a divulgação, e resolví apresentá-lo aqui, porque relaciona-se diretamente com a Segurança Operacional.

Tomei a liberdade de enxugar o texto, eliminando alguns "desabafos mais enfáticos", privilegiando a concisão e o destaque dos fatos relacionados à segurança operacional.


Como recebí também uma observação sobre este texto, contestando seu início que cita o continente africano, vou apresentar a partir da parte consensual:

"... é mais ou menos assim que um aviador se sente voando no Brasil; você tem uma tecnologia de ponta dentro do seu avião e um sistema precário e ultrapassado a sua volta. 

 Vou explicar porquê!

Atrasos: 
Os atrasos no Brasil tem características incomuns comparado ao mundo afora; quando se tem nevoeiro... somente Guarulhos e Curitiba tem sistema mais preciso para pouso por instrumento, conhecido como " ILS categoria 2".  
Porto Alegre, Florianópolis e Confins não tem esse sistema, estes sempre fecham por causa de nevoeiro. Manaus que tem uma localização extremamente peculiar (alternativas distantes) também não tem.  

Se você passageiro está indo para Porto Alegre, fique sabendo que seu avião não pode alternar Florianópolis caso Porto Alegre esteja fechado. Florianópolis tem um pátio para cinco aviões apenas e recebe mais 150 vôos de fretamento além dos regulares no verão. Também não tem taxiway (acesso o início da pista de decolagem), obrigando as aeronaves a taxiarem pela pista, que fica menos tempo disponível para pousos e decolagens.

O problema de pátios lotados é recorrente em Guarulhos, Vitória e Confins. Galeão e Congonhas eventualmente ficam nesta situação.


Lembrem-se que aqui é o Brasil e não Europa ou EUA, no qual os aviões são sequenciados para pouso com separações de 4 km entre aeronaves, enquanto que no Brasil é 8 km entre aeronaves e no caso de Florianópolis chega a 20 km por aeronaves por falta de taxiway.

AEROVIAS (rotas aéreas)
 Você sabia que quando você sai do litoral brasileiro e vai pra São Paulo você voa em curva? É necessário passar por cima do Rio de Janeiro, poderia ser direto via Minas Gerais. Esse contorno do litoral gera em cada vôo pelo menos 1000 litros a mais de combustível consumido. 


Mesmo com todo equipamento disponível, os controladores não oferecem a opção dos vôos diretos.
Mas não coloco a culpa nos controladores. A culpa não é deles. O sistema brasileiro é que é arcaico e bem precário. O salário deles é baixo e cheio de "concurseiros" sem compromisso com o seu trabalho. Alguns são sérios e dedicados porém não tem as condições de trabalho dignas. Apenas um controlador cuida de várias regiões do País e todos sofrem muita pressão para no final das contas serem menos eficientes que os controladores americanos, europeus e asiáticos. Outro dia ouvi um controlador se despedindo no rádio por que tinha passado em um concurso melhor – isto é vergonhoso para um país que quer ser "primeiro mundo" - , mas desejei a ele sucesso e espero que ele esteja feliz no emprego bem remunerado que ele tem agora .Talvez ele não foi valorizado como deveria. 


Eu como piloto de linha aérea digo sem exagero, que voar no Brasil hoje estaríamos voando numa espécie de alerta amarelo. Outro acidente está bem próximo de acontecer. Ao decolar não significa que temos a certeza de pousar no destino e nem no aeroporto de alternativa. Outro dia cinco aeroportos estavam literalmente fechados por falta de pátio; Confins, Galeão, Vitoria, Guarulhos e Campinas. Você tem que decolar de Brasilia para São Paulo com combustível suficiente para alternar Salvador. 


Isso  eleva custos operacionais, que juntamente com a incidência de impostos elevados,  diminuem a competitividade das empresas de aviação brasileiras, obrigando a realização de parcerias com empresas estrangeiras, nem sempre favoráveis aos interesses do Brasil e dos brasileiros.
 
Apagões na aviação irão se repetir pelos próximos anos. 
Tanto a Copa do Mundo como as Olimpíadas acontecerão em época propícia para a formação de nevoeiro, o que poderá gerar efeitos cascata de atrasos e cancelamentos de vôos. 

Solução: primeiro de tudo é: Os políticos começarem a pensar como os governantes de países desenvolvidos pensam ou, como disse o Raul Seixas; A solução é alugar o Brasil. 

Nos EUA, Europa e Ásia seus governantes constroem um aeroporto para atender uma demanda que só terá daqui 20 ou 30 anos e com pátio suficiente para estacionar mais de 100 aviões de grande porte juntos.  

Já é um absurdo os aeroportos brasileiros não terem metrôs. Os estrangeiros quando chegam aqui e não veem metrôs nos aeroportos, acham que é uma piada até entenderem que não existe mesmo. Em qualquer aeroporto no estrangeiro tem metrô. 

Que país é esse? O Brasileiro se compara muito aos EUA, porém o povo americano sabe exigir de seus governantes, por isso o governo não espera ser pressionado pra poder começar a fazer algo. " O povo Brasileiro sabe só reclamar, só não sabe reclamar para a pessoa certa, ou orgão "competente". Reclama pro vizinho e para o amigo, mas quase ninguém entra no site do Senado ou da Câmara dos deputados pra enviar e-mail para o seu político ou pelo menos saberem o que eles estão fazendo ".

É muito fácil ir ao Estados Unidos passear, fazer compras e voltar falando que lá é o máximo e aqui é o fim do mundo. De fato são décadas de diferença, porém lá o povo é mais consciente com o que seus políticos estão fazendo com o dinheiro público e a burocracia do funcionalismo público deles praticamente inexiste se comparado ao nosso. 



Boa sorte a todos nos próximos vôos!